A foto mortuária exposta na “casa velha da ponte”, que abriga o museu Casa de Coralina, foi emoldurada pela própria poetisa que a colocou ao olhar público.
A exposição é montada para evocar a memória do desembargador Francisco de Paula Lins dos Guimarães Peixoto, pai da poetisa, natural de Areia, na Paraíba. A foto exposta71 (Fig. 34) constitui em um evento crítico já que o apresenta morto, sentado em uma cadeira e vestido com sua toga, em 15 de outubro de 1889. A foto mortuária consiste em um indício do enlutamento (...) sob o quadro, uma cadeira vazia contribui para reforçar a ideia de ausência, as flores artificiais laterais consolidam o culto à saudade e uma cópia manuscrita do poema “Meu pai”, explicitando o discurso autobiográfico e a memória.
Meu pai se foi com sua toga de juiz.
Nem sei quem lha vestiu.
Eu era tão pequena,
mal nascida.
Ninguém me predizia – vida.
Nada lhe dei nas mãos.
Nem um beijo,
uma oração, um triste ai.
Eu era tão pequena!...
E fiquei sempre pequenina na grande
falta que me fez meu pai (CORALINA, 1976, p. 103)
Fonte: Clovis Carvalho Brito. Gramática expositiva das coisas: a poética alquímica dos museus-casas de Cora Coralina e Maria Bonita.
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