sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Feira

A cidade dormia durante a semana e acordava no sábado com outro aspecto e outro cheiro. Muita gente vindo pela rua do Sertão e o Beco do Jorge. Desse lado chegava senhores de engenho, importantes, como uma casta. Os animais ficavam na cocheira. Por falta de mercado, vendia-se tudo ao ar livre, chovesse ou fizesse sol. Só havia barraca para miudeza. O queijo do sertão, exposto ao sol, suava manteiga. O saco de farinha começava erguida,  acabando de cócoras. Para prova-lá o freguês enchia a mão e sacudia um punhado na boca. Pedia-se para experimentar uma isca de queijo, uma fruta, uma pele de fumo.  A carne-de-sol eram mantas tão pretas que já pareciam assadas. Fieiras de peixes, eram magras, como folha seca, pele e espinha. Toicinho, metade sal, metade porco, faria parte da feijoada, e banha servia para o guisado ou o cabelo. Tripa seca era comida de pobre. A feira de frutas parecia um hotel, comendo-se ali mesmo e deixando-se as cascas no chão. Rolos de fumo lembravam cobras pretas meladas de veneno. Cegos de toda a redondeza faziam ponto na feira. Areia era um celeiro, custando tudo pouco mais ou nada.

José Américo

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