Areia, entre as décadas de 10 e 30 do século XX, era uma cidade pacata, animada apenas por alguns eventos festivos que marcavam o calendário e alegravam as pessoas que ali viviam. A comunidade areiense vivia em harmonia como uma grande família, guardando suas tradições e zelando pelos seus valores, tão arraigados naquela gente simples.
O ponto alto da vida social de Areia sempre foi a festa da padroeira, mas logo depois dessa festividade vinha a comemoração do nascimento de Jesus. Sem árvores enfeitadas, nem Papai Noel, ou troca de presentes, o Natal era comemorado. Tudo se resumia a uma festa apenas da religião e de fraternidade comemorada na Igreja com a Missa do Galo e pelas visitas às casas dos parentes e amigos. Algumas famílias preparavam lapinhas, armadas na sala da frente para receber as visitas, que vinham ver os presépios e homenagear o menino Jesus.
As lapinhas procuravam reproduzir a cena do nascimento de Jesus conforme a versão da Bíblia e a imaginação e possibilidade dos seus realizadores. Todo recurso era utilizado, desde a taboca para a armação da gruta, recoberta com plantas, flores de papel, estrelas de areia brilhante, imagens da Sagrada Família, animais de madeira, gesso, louça ou papel, lagos de espelho e painéis representando a cidade do nascimento de Cristo. A fidelidade ao cenário de Belém não era prioridade, o mais importante era que a lapinha tivesse muitos enfeites e despertasse a admiração dos visitantes. Havia uma verdadeira competição entre elas, e algumas como a de D. Maria Lisboa, durante muitos anos, atraíu um grande número de pessoas da região do brejo para a admirar a beleza.
Na noite de Natal era o momento ideal para se visitar as casa dos vizinhos para desejar boas festas aos amigos e se servir das delícias como queijo do reino, pastéis, bolos e outros pratos, que não podiam faltar nas mesas natalinas, que se não tinham decoração especial, eram oferecidas com toda amizade de uma pequena cidade. O ponto principal da noite era assistir à Missa do Galo que celebrada à meia-noite, era um desafio para as crianças ficarem acordadas até tão tarde.
Durante o período natalino, se apresentava o pastoril de José Ataíde, onde as moças, vestidas de encarnado e azul cantavam, dançavam e encantavam a assistência, disputando os votos dos seus torcedores. A platéia torcia por seu cordão de preferência e sempre ajudava a subir a bandeira de sua escolha aos gritos e aplausos.
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