sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Religiosidade areiense.

Enquanto cidade interiorana, entre os séculos XIX e o XX, Areia era caracterizada, sobretudo por uma vida social marcada principalmente pela ausência de um dinamismo próprio, destacando-se nesses momentos históricos apenas as festas religiosas como principal distração das massas. Assim sob os conselhos da Igreja à sociedade participava das cerimônias de devoções públicas, que aconteciam tanto dentro quanto fora dos templos: como as celebrações da Semana Santa, das frequentes procissões, novenas, romarias e das santas missões.

O clímax da vida social de Areia era então a festa da Conceição que se realizava entre 29 de novembro e 8 de dezembro, tendo programação religiosa e profana em todas as noites. Havia toda uma preparação para a festa da padroeira, as pessoas “mais importantes” ajudavam ao Padre a organizar a festa. As crianças da paróquia preparavam as bandeiras de papel colorido para enfeitar as ruas e o pavilhão, as moças se dedicavam em confeccionar as flores de pano para decorar a igreja e o andor da santa. Além disso, alguns areienses considerados intelectuais eram incumbidos de elaborar o jornalzinho da festa. Na realidade circulava durante essa festa alguns jornaizinhos, como O Chicote que possuía um viés editorial bastante humorístico, nele se criticava vários personagens da sociedade areiense. Essa forma de humor segundo Horácio de Almeida (1957) não sofria censura, pois era visto como uma espécie de divertimento em um contexto de festa, ou seja, essa imprensa escrita era um meio usado pelos cidadãos para que pudessem rir uns dos outros.

Inevitavelmente a festa da Padroeira mobilizava a população de Areia antes, durante e depois da sua realização. "A festa de Conceição iniciava-se dez dias antes do dia oito de dezembro. Todos se aprontavam. Em João Pessoa e Recife, vestidos confeccionados por costureiros especiais. (...) As mães e pais se mexiam. Uns para tirar o dinheiro dos bolsos e as mães a viajarem com seus jovens. Pelo menos duas mudas de roupas deveriam ser adquiridas" (ALMEIDA, Z., 2010, p.191).


O primeiro dia da festa, logo pela manhã, era marcado pela retreta da banda de música Abdon Felinto Milanês, que desfilava pelas ruas da cidade acordando o povo para se prepararem para a festividade religiosa: uma missa às cinco horas da manhã seguida pelo hasteamento da bandeira. Ao anoitecer em frente à Matriz, o Padre juntamente com o Prefeito hasteavam a bandeira de Nossa Senhora da Conceição, sob a aclamação pública. Logo depois ricos e pobres adentravam na Igreja para a novena rezada pelo Padre e cantada pelo coro da igreja. Depois da novena começava na praça central a festa profana. Os mais pobres se deslocavam para as ruas laterais e os ricos ficavam no pavilhão central, que possuía muitas mesas, onde as famílias mais influentes se reuniam todas as noites para os festejo. “Mesmo em festas religiosas, as classes sociais não se misturavam, embora todos se divertissem, cada um em seu lugar” (RODRIGUES, 1998, p.52).

A festa na rua consistia em girândolas, salvas, fogos de artifícios e na quermesse. Para os jovens esse era o momento dos namoros, a oportunidade de burlar algumas regras. Verifica-se então que as festas se tornaram a ocasião mais propícia para uma maior interação social. “Durante nove dias a cidade se apresentava engalanada, no garbo de sua magnificência, como se estivesse em núpcias com a imaculada Conceição” (ALMEIDA, H., 1957).

Procissão da festa da padroeira no início do século XX 

Um comentário:

  1. Muito bom o texto, melhor do que outros que tentam escrever sobre Areia. Estilo sóbrio. Parabéns.

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